Ronaldo Quadrado |
O caso das fraudes nos exames de câncer de colo do útero em Pelotas, que coloca em dúvida a veracidade e a segurança de milhares de procedimentos coletados a partir de 2014, foi abordado pela deputada Miriam Marroni (PT) durante a reabertura dos trabalhos legislativos nesta quarta-feira (1º). Queremos o apoio dos deputados e deputadas para que haja uma exigência do Ministério Público e do Judiciário obrigando Pelotas a refazer imediatamente todos os exames Papanicolau para a população feminina, afirmou a parlamentar.
Para a deputada petista, a fraude, se comprovada, irá configurar em um grave crime em relação a saúde pública voltada às mulheres. Se trata de algo que nunca tinha sido visto no Rio Grande e no Brasil e que leva à consequências gravíssimas, como a morte de mulheres do município e de mais 10 cidades da região, pontuou a parlamentar. De uma população total de cerca de 340 mil habitantes em Pelotas, 176 mil são mulheres.
A denúncia, feita na segunda quinzena de julho por técnicos e médicos do sistema público de saúde do município, aponta que o laboratório contratado pela prefeitura e responsável pela análise de amostras do exame de papanicolau, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), estaria emitindo os resultados por amostragem, em vez de analisar todos os laudos.
Em seu pronunciamento, a parlamentar destacou que os profissionais notaram que a maioria dos exames não seguia a estatística nacional e davam resultado zerado em vários dos 50 postos de saúde locais. Responsáveis e compromissados com um trabalho de qualidade, perceberam que isso não era normal, destacou Miriam, lembrando que mesmo as pacientes examinadas que apresentavam sintomas de quem já estava com a doença e cujo material colhido mostrava coloração e odores característico próprios da moléstia, possuíam exames com resultados negativos.
Em seu pronunciamento, a deputada destacou ainda que desde 2014 pesquisadoras da Universidade Federal de Pelotas também apontavam, como mostram matérias veiculadas pela imprensa local no período, que no município as mulheres com câncer de útero morriam mais cedo do que a média brasileira. Eram informações contraditórias, mas óbvias, pois se descobriu que quando se identificava o câncer era tarde demais, apontou Miriam.
Líder da bancada
Em continuidade ao pronunciamento de sua colega de bancada, a líder do Partido dos Trabalhadores, deputada Stela Farias, classificou as suspeitas como um tema inaceitável e indignante. Stella destacou a necessidade da união de esforços da Casa legislativa para exigir dos órgãos competentes, como o Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal, que seja investigado tudo o que pode ou não ter acontecido diante dos indícios de fraude apresentados. São mais de 100 mil mulheres que correm o risco de morrer porque apenas uma em cada 100 coletas foi realmente analisada. Uma conduta criminosa, pois condena à doença, ao sofrimento e à morte mulheres que não estão informadas de nada e a quem está sendo omitido o direito saber, afirmou Stela, lembrando ainda que o câncer de colo do útero, se percebido a tempo, pode ser tratado e curado. Há a suspeita de que somente em 2017 mais de 6.800 exames não foram analisados.
A líder da bancada do PT também teceu críticas à prefeitura municipal de Pelotas, que somente reconheceu o problema quando a situação veio a público, um ano após ter recebido uma denúncia formal do caso. Temos a convicção de que pode ter sido incapacidade, desleixo e incapacidade da gestão. Portanto, uma irresponsabilidade gravíssima, danosa e criminosa em relação a saúde pública. Todos os exames suspeitos precisam ser refeitos urgentemente, enfatizou.
Nesta quinta-feira, uma comitiva formada Miriam, Stela e a deputada Manuela DÀvila (PCdoB), Procuradora Especial da Mulher da ALRS, juntamente com a deputada federal Maria do Rosário (PT), estarão em Pelotas acompanhando as averiguações e movimentações que estão sendo feitas sobre o caso.
Texto: Marcelo Antunes (MTE 8511)
